domingo, 8 de junho de 2008

A cidade da crônica

A chamada capital secreta do mundo transformou-se, desde quinta-feira, na cidade da crônica. Ao sediar a Bienal Rubem Braga 2008, evento literário cujo nome homenageou um dos mais importantes cronistas brasileiros, Cachoeiro de Itapemirim reuniu escritores – locais e nacionais –, além do público leitor, que pôde conferir até domingo uma série de palestras, mesas-redondas e oficinas, entre outras atrações.
O tema da bienal deste ano, "A Crônica e o Meio Ambiente", além da sintonia com os assuntos em pauta na mídia global, resgatou o pensamento ecológico de Rubem Braga, considerado o primeiro autor que se ocupou em descrever e refletir sobre o meio ambiente da região da bacia hidrográfica do rio Itapemirim, no Sul do Estado. "Ele se preocupava com os peixes, falava sobre as árvores, as aves. Já chamava a atenção para o problema da escassez de água, há mais de meio século, quando nem se falava em ambientalistas", afirmou o jornalista José Carlos Dias, curador do evento.
Durante quatro dias, houve uma extensa programação cultural que aconteceu no pavilhão de eventos construído na Ilha da Luz. Foi montado um auditório com capacidade para 600 pessoas, onde aconteceram as palestras e mesas-redondas. O espaço concentrou a programação literária propriamente dita.
Ao lado desse auditório, esteve a Feira do Livro, reunindo as principais editoras e livrarias do Espírito Santo e de outros Estados. Nesse espaço, coordenado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), foram lançados 25 títulos, de escritores locais e de outras regiões do país.


Cronistas
Entre os convidados de renome nacional, passaram pela bienal figuras como Carlos Heitor Cony, Zuenir Ventura, Danuza Leão e Ana Maria Machado, entre outros. Com o tema "Rubem Braga e a Crônica Moderna", Cony falou na abertura.
Na sexta, além de ter lançado seu mais recente livro, "1968: O que Fizemos de Nós", o escritor e jornalista Zuenir Ventura, 77 anos, foi o palestrante da mesa-redonda "A Crônica como Gênero Literário", que contou com mediação de Francisco Aurélio Ribeiro, escritor e presidente da Academia Espírito-Santense de Letras.
E não são apenas os veteranos que participaram do evento. Autores que representam a nova geração também passaram pela Bienal Rubem Braga. É o caso dos escritores Julián Fuks, 26, e Flávio Izhaki, 30, que participaram no sábado, da mesa-redonda "A Literatura Contemporânea Brasileira".
Autor de "Histórias de Literatura e Cegueira" (2007), Fuks acredita que a literatura contemporânea, no Brasil e em outros países, passa por um momento delicado, que é a perda de leitores. "Hoje pode-se dizer, sem muito pudor, que o cinema e a televisão ocuparam o papel de contar histórias, enquanto a literatura assumiu outra função. O que não é totalmente ruim, pois esta acaba guardando para si mais complexidade e aprofundamento, indo além da necessidade de se contar uma história", observou.


Diversidade
O evento abrigou também artistas de outros campos, além da literatura. Dentro da Feira do Livro houve um tablado com música ao vivo e, no entorno, uma tenda onde foi realizada a mostra Cinema e Literatura, com 18 filmes, entre curtas e médias-metragens, todos baseados em obras da literatura nacional. À noite, no Teatro de Arena, aconteceram exibições de longas em 35mm. A bienal contou ainda com exposições de artistas plásticos da região Sul do Estado; Salão Estudantil de Humor, apresentando cartuns feitos nas escolas, com o tema meio ambiente; apresentações teatrais; e oficinas de criação literária.
De todas as atividades realizadas pela Bienal Rubem Braga, José Carlos Dias chama a atenção para os trabalhos desenvolvidos nas escolas, a fim de formar leitores e escritores. "Essa bienal começou lá atrás, desde o ano passado, quando fizemos parcerias com escolas de Cachoeiro para capacitar os professores que, por sua vez, transmitiriam conhecimentos sobre literatura aos alunos", disse.
Segundo ele, essa experiência possibilitou desenvolver atividades de criação literária em sala de aula, com os estudantes – o que deu bons resultados. "Graças a isso, criamos o Concurso Estudantil de Crônicas e uma categoria do Prêmio Sabiá de Crônica voltada para esses alunos, que apresentaram seus escritos durante a bienal. Queremos estimular a construção de uma cultura literária nas escolas, para que isso deixe sementes importantes", completou o curador da bienal.


O pensamento ecológico de Rubem Braga
O célebre cronista cachoeirense é considerado o primeiro escritor que se ocupou em falar de questões ambientais na região da bacia hidrográfica do rio Itapemirim. Essa faceta do autor foi tema da mesa-redonda que aconteceu no sábado, com os jornalistas Hiran Firmino e Basílio Machado: "Rubem Braga e a Ecologia". Criador e editor-chefe da Revista "JB Ecológico", Hiran falou sobre o pensamento ecológico do cronista. "Temos uma seção na revista intitulada ‘Memória Iluminada’, em que elegemos, postumamente, uma pessoa importante que tenha falado sobre ecologia num sentido amplo", contaou. Na edição deste mês, em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), Rubem Braga foi o personagem escolhido pela publicação.


Texto: Tiago Zanoli.

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