quinta-feira, 11 de março de 2010

Textos sobre a 1ª Bienal de 2006


Encontrei em meus arquivos três textos que fiz registrando a 1ª Bienal Rubem Braga. Na verdade se trata de um artigo, publicado no jornal ES de Fato na época e duas entrevistas com o cronista, poeta e professor Adriano Spínola e Isabel Lustosa, que é bacharel em Ciências Sociais pelo IFCS/UFRJ, mestre em Ciência Política e doutora em Ciência Política pelo IUPERJ, e Membro do PEN Club do Brasil. Confiram:

_____________________________________________

Friday, June 02, 2006

“Sem tambor nem trombeta”
“Só abro a boca quando eu tenho certeza”, Ofélia

No livro “A Sedução da Palavra” de Affonso Romano de Sant’Ana, que adquiri na abertura da 1º Bienal Rubem Braga, há uma crônica bastante interessante intitulada “A título de títulos”. O texto fala de um autor que terminou um romance e não conseguiu um título para ele. Pediu conselho a um amigo, que lhe perguntou se o referido romance fala de trombeta. O autor respondeu que não. Também perguntou se fala de tambor. Novamente respondeu que não. Então o amigo, na lata, encontra a resposta: “coloque o título Sem tambor nem trombeta”.
Tudo estava correndo às mil maravilhas. O início da Bienal, o reencontro com velhos amigos, a aquisição dessa obra acima citada e, principalmente autografada pelo próprio Afonso Romano, que inclusive ia realizar uma palestra. Eis que surge a inigualável Banda da Polícia Militar do Espírito Santo para uma apresentação que, por muito tempo, os presentes no evento vão lembrar. Era mesmo para ser uma noite inesquecível. E foi.
Se não fosse a lamentável participação da inominável (não no sentido de que não se pode designar por um nome, mas no sinônimo de inqualificável, por sua vileza ou crueldade) Tônia Carreiro o evento seguiria normalmente, como previsto pela organização.
Ela simplesmente, na terceira apresentação do repertório musical, que por sinal bastante refinado retratando o Rio de Janeiro dos anos 50 e 60, repeliu grosseiramente os soldados e o oficial maestro. Com exceção do PCC, eu nunca vi ninguém colocar tantos policiais para correrem assim. O resultado não podia ser diferente. Dizem às más línguas que a banda nunca mais pisa na terra dos Braga.
Também pudera, logo apelidaram a madame de “Toninha 51”. A sinceridade dos bêbados é mesmo inconveniente. Na verdade ela apenas expressou o sentimento coletivo da maioria presente. Os discursos estavam bastante longos. Mas isso não justifica a falta de educação e consideração com uma das bandas mais conceituadas do país.
Por ter uma idade avançada, acredito que ela confundiu a data de sua apresentação, que seria apenas no dia seguinte. Só pode ter sido isso. Toninha encarnou no papel de Ofélia do Zorra Total. Aquela que só abre a boca para falar bobagens. Antes de tentar seduzir as pessoas com o que se fala, principalmente artistas de renome nacional, deveriam medir o peso de suas palavras.
Para piorar a situação, o constrangimento foi tão grande com a expulsão dos policiais, que levaram, na mesma hora, os instrumentos para fora da Bienal, o palestrante foi o que menos utilizou suas cordas vocais.
Se eu contar para o 14 Bis, já que estão vindo por aí, eles não vão acreditar. O grupo fez apresentações recentes com a banda da PM.
É lamentável dizer que termino essa coluna comparando Cachoeiro de Itapemirim com a crônica de Afonso Romano de Sant’Ana. A cidade talvez tenha ficado para sempre, por causa de uma interferência de mau gosto de uma forasteira, “Sem o tambor e a trombeta”, da Banda da Polícia Militar do Espírito Santo.

________________________________________________________

Crônica: “o gênero mais importante do Brasil”
Por Roney Moraes

O cronista, poeta e professor Adriano Spínola proferiu hoje (02/02), no Teatro Municipal, uma palestra sobre “A Crônica Contemporânea”. O evento faz parte da 1ª Bienal Rubem Braga realizada pela Adese e Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim (PMCI). Em entrevista, concedida após a apresentação de sua palestra, Spínola fala sobre a evolução do gênero e diz que só o brasileiro é capaz de dar dribles desconcertantes no futebol e na crônica.


O senhor afirmou que a crônica contemporânea tem uma identidade plural e é sincrônica.
Adriano Spínola – Bom, plural porque ela hoje tem várias formas, apesar de perseguir aqueles modelos estabelecidos por Machado de Assis, Rubem Braga, Carlos Drumond Andrade, Paulo Mendes Campos e outros, e continua muito presente na vida nacional. Todo jornal, toda revista têm os seus cronistas que comentam os fatos políticos ou, então, recriam aspectos do cotidiano. Agora ela é sincrônica no sentido de que traduz uma simultaneidade, ou uma síntese não só atemporal, como espacial.

Então a crônica não está mais ligada apenas aos fatos do cotidiano?
- Na minha percepção não. Como a gente verifica por aí, Luiz Fernando Veríssimo de repente fala do século IXX e não está mais ligado a um só espaço ou a uma cidade, mas a vários lugares. A crônica de Eloísa Seixas é muito sintomática nesse sentido, porque através do computador ela diz que se sente agora no mundo.

O senhor acha que o avanço tecnológico e a velocidade das informações são, de certa forma, responsáveis pela evolução da crônica contemporânea?
- Claro. O computador, por exemplo, está dando essa percepção simultânea do mundo, das coisas. E isso está fazendo com que o cronista não se sinta mais habitando apenas uma cidade, mas da cidade transformou-se no mundo. Então ele fala de algo acontecido na esquina e de repente pode falar de algo acontecido na China.

Qual a diferença entre crônica jornalística e crônica literária?
- A crônica literária, evidentemente, tem uma recriação da linguagem, mais conotativa, possibilita várias interpretações, enquanto que a crônica jornalística se associa mais a um comentário. Vamos dizer que ela é unidimensional, ou monosemântica que possibilita uma só interpretação.

O senhor afirmou que a crônica é o gênero literário mais importante do Brasil.
- Esse gênero trás a marca de brasilidade. A capacidade de improviso, o temperamento anárquico, a carnavalização, a plasticidade intelectual do homem brasileiro, porque ele não está habituado a pensar sistematicamente, como, por exemplo, na Europa. Para nós vale muito mais a imaginação recriadora dos fatos. A crônica tem uma característica diferente, ela é imediatista como nós desde o período colonial. Somos ligados às coisas imediatas. Nos falta planejamento a longo prazo, pois atuamos diante das coisas presentes.

A crônica é legitimamente brasileira?
- Eu acho que nenhum povo consegue ter escritores com esse grau de liberdade, beirando até a irresponsabilidade. Muitas vezes o cronista deixa para escrever sua crônica na última hora, como já fiz também, e isso não aconteceria, jamais, em países da Europa ou Estados Unidos. Então nenhum outro povo do mundo, pelo menos nos lugares onde passei, é capaz de dar um drible desconcertante no futebol e também na crônica.

Como é participar da Bienal Rubem Braga?
- É muito gratificante. Está até melhor do que esperava. Sinto-me honrado em participar dessa Bienal em torno do Rubem Braga e da crônica brasileira.

__________________________________________________

“Eu acho o máximo estar aqui”
por Roney Moraes

Isabel Lustosa, que é bacharel em Ciências Sociais pelo IFCS/UFRJ, mestre em Ciência Política e doutora em Ciência Política pelo IUPERJ, e Membro do PEN Club do Brasil, esteve hoje preferindo uma palestra no Teatro Municipal falando da história da imprensa no Brasil. O evento faz parte da 1ª Bienal Rubem Braga realizada pela Adese e pela Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim.
Em entrevista concedida após sua apresentação, a pesquisadora, além de Rubem Braga e de Cachoeiro de Itapemirim, fala sobre o grande humorista capixaba Mendes Fradique e recupera o agitado ambiente político da época da independência comentando sobre os insultos impressos.


Como é participar da Bienal Rubem Braga em Cachoeiro de Itapemirim?
Isabel Lustosa – Eu acho o máximo estar aqui. Sou fã do Rubem Braga, mas conhecia Cachoeiro apenas através de suas crônicas e por aquela música do Roberto Carlos “meu pequeno Cachoeiro...” vou amanhã conhecer a Casa dos Braga. Então não é só legal participar de um evento assim na cidade, mas também saber que o município está atraindo intelectuais do Brasil inteiro para falar sobre cultura e também conhecer Cachoeiro, que faz parte da memória sentimental brasileira mesmo sem a gente conhecer.

Em sua palestra você contou um pouco sobre a história de Mendes Fradique.
- Mendes Fradique, que hoje é completamente esquecido, foi um humorista muito importante nos anos 10 e 20 no Brasil. Ele participou de um grupo, no qual faziam parte Emílio de Menezes, Calisto, entre outras figuras de uma boemia literária que estava se extinguindo. Mendes tinha um talento para o desenho, mas principalmente seu texto antecipa muitas coisas que aconteceram no humor brasileiro.

Hoje Mendes Fradique ainda é referência no humor?
- Sim. Ele antecipa coisas que o Barão de Itararé vai fazer depois e até coisas que hoje o Casseta & Planeta faz. Mendes Fradique era muito original e com um texto de grande qualidade. Ninguém pensou essa brincadeira do método confuso que nem ele. Então eu acho que é preciso valorizar esse autor capixaba e principalmente é obrigação dos capixabas começarem a ler Mendes Fradique.

Você é especialista em História da Imprensa e há um trabalho seu que fala sobre os insultos impressos na época da Independência.
- Depois de Mendes Fradique, que foi minha tese de mestrado, eu ainda trabalhei algum tempo fazendo estudos sobre caricatura, um artigo que eu considero de grande importância na minha carreira que fala sobre J. Carlos, um grande caricaturista, mas quando resolvi fazer a tese de doutorado eu quis trabalhar com os primórdios da imprensa no Brasil e entender a coisa do humor no início. Acabei descobrindo um filão, que foi a imprensa da independência, e que me empurrou mais para a discussão da ciência política. O que era o projeto nacional daqueles jornalistas que se insultavam tanto.

As publicações eram polêmicas?
- A imprensa da independência foi muito polêmica. Dom Pedro I escrevia baixarias terríveis (risos), outros também, então foi o cenário mais animado do que a gente imagina e mais consistente, do ponto de vista do debate político. Foi muito importante também descobrir que estava nascendo ali uma nação, uma imprensa e um parlamento, tudo ao mesmo tempo, com muito vigor.

Você trabalhou com o jornalista Alberto Dines, o grande observador da imprensa, e como está, na sua opinião, a imprensa hoje, do ponto de vista das crônicas publicadas por vários novos autores?
- Hoje eu não vejo um grande cronista publicar artigos, como Rubem Braga fazia, mas encontramos bons escritores, como Luiz Fernando Veríssimo e outros.

Coluna "Newton Braga" 11/03/2010

"Bragmentos"


O Grupo ELA de Teatro convida a todos a assistirem seu no novo espetáculo “BRAGMENTOS”, inspirado na biografia de Rubem Braga de Marco Antonio de Carvalho e atuação de Lucimar Costa, fechando a trilogia de textos teatrais escritos por Lucimar Costa.
Este espetáculo estará participando do Festival de Curitiba nos dias 23 a 25 de março dentro da mostra Fringe.
A pré-estréia do espetáculo será no Centro Operário e de Proteção Mútua, na Rua 25 de Março, em Cachoeiro de Itapemirim-ES, nos dias 14 e 15 de março às 20h00.
Estão sendo vendidos apenas 30 ingressos para cada dia. Quem quiser prestigiar o trabalho pode reservar o ingresso através do telefone: 9946.2173 com Lucimar.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Trio parada dura


Em homenagem à Bienal que se aproxima, uma raridade. Na foto, tirada em Cuba, o escritor Rubem Braga de pé ao lado do então ministro da Fazenda cubana, Ernesto “Che” Guevara, e o ex-presidente do Brasil, Jânio Quadros.

Agentes culturais debatem a Bienal


Além de palestras, a terceira bienal vai buscar criar processo permanente de incentivo à leitura.

Os agentes culturais de Cachoeiro de Itapemirim vão conhecer e debater o projeto da III Bienal Rubem Braga nesta terça-feira (09). O encontro é promovido pela prefeitura, realizadora da bienal, e acontece na Sala Levino Fanzeres, no Bernardino Monteiro, às 18h30.
“Queremos colher sugestões, em especial no sentido de buscar um envolvimento ativo da comunidade na programação”, afirma o secretário municipal de Arte e Cultura em exercício, Genildo Hautequestt.
A Bienal está confirmada para o período de 8 a 13 de junho, na praça Jerônimo Monteiro, no Centro. Além de feira de livros, vai oferecer palestras, sessões de autógrafo, encontros com autores e oficinas. Desta vez, a bienal é planejada em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (Seme) e tem como foco a formação de leitores.
“A proposta é consolidar a Bienal não apenas como um evento, mas sim como um processo permanente de incentivo à leitura em Cachoeiro de Itapemirim”, frisa o secretário.
Para tanto vão ser promovidas oficinas de capacitação para professores da área de linguagens e também um circuito cultural voltado aos alunos da rede municipal de ensino. As atividades vão ser desenvolvidas, inicialmente, entre abril e maio. Mas há interesse em dar sequência às atividades no segundo semestre e ao longo de 2011.
A III Bienal Rubem Braga vai contar com a parceria da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) no planejamento e na realização.

Terceira Benal Rubem Braga


Amanhã acontece a primeira reunião da equipe que vai conduzir os trabalhos da terceira Bienal Rubem Braga em Cachoeiro de Itapemirim. No encontro, que será na sala Levino Fanzeres no Palácio Bernadino Monteiro às 18h30, serão definidos os prazos e os eventos que serão expostos na Bienal. Na última edição, realizada em 2008, o evento teve como tema principal “A crônica e o meio ambiente”. A Bienal Rubem Braga entrou para o calendário como sendo um dos principais eventos culturais da cidade e do sul do estado do Espírito Santo. Ela é famosa por oportunizar o encontro de grandes escritores com os seus leitores.