quarta-feira, 2 de junho de 2010

Roteirista da Rede Globo vem falar de cinema


Cachoeiro de Itapemirim vai receber um dos mais importantes nomes do cinema brasileiro atual. O roteirista e escritor Fernando Bonassi estará na cidade, na próxima quinta-feira (10), para participar da III Bienal Rubem Braga. Ele vai falar sobre literatura e cinema.
Bonassi é autor de livros infanto-juvenis, de peças de teatro, roteirista de cinema e de TV. Tem em seu currículo participação em filmes como Carandiru, Cazuza e Lula – o filho do Brasil. Entre os seus trabalhos mais conhecidos pelo público estão os programas de TV com os quais contribuiu como Castelo Ra-Tim-Bum, da TV Cultura, e Força Tarefa, da TV Globo.
Na Bienal, Bonassi vai participar da “Mesa 3: Literatura e Cinema”. Ele vai abordar a relação entre o público e a indústria cultural. Também participa da discussão a escritora capixaba, professora e doutora em cinema pela Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo, Bernadette Lyra. A mediação será feita por Virgínia Jorge.
A III Bienal Rubem Braga é uma realização da prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim, por meio das secretarias municipais de Arte e Cultura e de Educação,em parceria com a Câmara Capixaba do Livro, com apoio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult). Será realizada de 7 a 13 de junho, na praça Jerônimo Monteiro, Centro.
Confira entrevista com Fernando Bonassi na qual ele fala sobre Rubem Braga, novas mídias e cinema.

Você é escritor e cineasta. A literatura e o cinema são duas artes afins? Por quê?
Acho que são afins porque o cinema ainda depende um pouco da literatura para construir a história. A maneira de se construir a história no cinema ainda guarda muita relação com a literatura: a forma como concebemos e construímos a narrativa é semelhante. Tanto cinematograficamente quanto literariamente é a mesma.

Estamos vivendo uma época em que o acesso à arte está muito facilitado pela rapidez de reprodução e pelo acesso aos equipamentos para a produção de vários gêneros. Mas os livros fogem a essa regra. Hoje, é mais fácil arrumar uma câmera ou celular com filmadora do que determinados títulos literários, especialmente em cidades de pequeno porte. Como é possível assegurar uma produção com quantidade e qualidade em um país que não lê?
Primeiro, é preciso lidar com alguns fatos novos. As pessoas não se tornarão leitoras como as gerações passadas foram. Elas vão ter uma outra relação com os livros, que vão acabar desaparecendo. No futuro, a leitura será em computadores. Até porque é inconcebível cortar árvores para fazer livros. Então, eu olho para esses equipamentos com bons olhos. Se não fosse a internet, não conheceríamos uma série de bons escritores por meio de seus blogs. Eu sei que, no Brasil, há uma preguiça de cada um em ler, mas também há uma série de impedimentos que não ajudam. Para que se leia mais, é preciso ter livros mais baratos, maior interesse do estado e da mídia para incentivar a leitura.

Nos seus textos, as palavras vão se transformando mentalmente em imagens à medida que vamos lendo a história, sem que para isso tenhamos que fazer grande esforço. Em segundos, o leitor se transforma em uma espécie de espectador da narrativa. Essa é uma característica do cineasta que se mostra no escritor?
Eu acho que é isso e mais alguma coisa. Eu penso muito visualmente e tenho nisso talvez a melhor descrição do meu estilo. Mas ele também é filho de um cara do século XX, que desconfia de qualquer melodrama, dos juízos pré-determinados.

–Nosso Rubem Braga, que deu o nome à Bienal, geralmente escrevia textos que também eram facilmente transformados em imagens pelos seus leitores. Suas crônicas eram extratos do cotidiano, da vida comum, que alcançavam certo lirismo sob sua ótica. Você acha que esse tipo de texto ajuda a popularizar a literatura e prende mais o leitor à história?
Sempre. Sou fã do trabalho que Rubem Braga fez na guerra, desse olhar mais distante. O trabalho dele de guerra é maravilhoso e ajuda a entender o Brasil daquela época. Aliás, acho que a crônica perdeu seu poder por causa da falta de coragem dos cronistas de hoje. Acho que vivemos um momento de servilismo ao mercado. Os assuntos abordados não refletem o que o país está vivendo e a crônica sofre.

Hoje vivemos em um mundo em que o apelo à imagem é muito forte. Como fazer as crianças se interessarem pela leitura, pela palavra escrita?
A única forma de acontecer é não demonizar as outras coisas. E, depois, dar condições profissionais aos professores de ensinar com o cuidado devido. Uma professora que tive na ditadura me deu um livro de Machado de Assis para ler aos 12 anos e durante vários anos falei mal desse escritor. Depois, uma outra professora me mostrou o quanto ele era louco e genial. Parte do desapego que temos à literatura parte do fato de que a literatura é mal tratada na escola porque os professores são mal tratados no que tange aos salários.

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